8 de abril de 2013

Por você, pra você


Criei por você um amor jovem
Que nascia e morria de felicidade
Toda primaveira, rindo e chorando
Dançando e caindo, levantando

Criei por você um amor surreal
Que era feito de uma proporção grande
De nada em especial
Tinha grama e tinha flores
Colhidas, ali, em mim
Tinha caco e tinha vidro
Quebradiço e afiado
Não, não me cortei
Mas havia ansiado

Criei por você um amor paciente
Que sentava em um silêncio animado
Que esperava sem soltar um pio
Que sorria, mesmo que cansado

Criei por você um amor solidário
Que, muitas vezes, era quase cego
Não te via nem te ouvia
Em geral, te sentia
E me machucava
Eu ignorava

Crei por você um amor rancoroso
Acordado de um sono profundo
Quis teu sangue, tua alma
Como assim lhe havia dado tudo
Não sobrou nada
Por onde você passou
Por onde você andou
Aonde você me deixou

Crei por você um amor que não era amor
Um ódio que não era ódio
Uma paixão que já não ardia em chamas
Uma vingança que já não era mais venosa

Criei por você nada
Senti por você nada
E, junto com você, tornei-me nada.

21 de março de 2013

Grand finale!

O dia está ficando cheio de clichês e o tempo foi passando rápido demais.
Não.
Cansei de metáforas. 
Antes de qualquer coisa, gostaria de dizer o quanto esse espaço significou pra mim. Ter um lugar aonde eu possa falar pra mim mesma, e, ao mesmo tempo, não ter ideia de quem está me lendo. É quase um pensamento estimulador. E funcionou. Eu colocava uma dúzia de palavras cujo significados eu não sabia, um contexto mínimo, e voilà, eu tinha um pequeno texto divertido de ler e de se escrever. Mas nunca significou muito coisa, de verdade. O que eu escrevia, quero dizer. Era só um passa-tempo. Na melhor das hipóteses, uma forma abstrata de desabafo. Mas eu conheci gente fantástica por esse meio, e troquei o estilo e a personalidade desse lugar mais vezes do que seria saudável. Talvez por estar apegada demais pra me desfazer dele. Afinal, foram quase quatro anos! Eu me vi crescendo nesse tempo. Tornei-me uma escritora melhor, talvez. Tornei-me um pouco mais madura e sensata. Ganhei elogios que não merecia. Mas foi uma boa época, devo admitir. Além do mais, a última coisa que você deveria adquirir na sua vida é apego. Então, gostaria de, principalmente, agradecer a todos os leitores - e a cada um em especial -, desse pequeno espaço que eu criei. Vocês foram lindos, carinhosos, generosos e me renderam reflexões inestimáveis  Muito obrigada. Fazendo um grande favor para mim, não vou excluir o endereço. Deixarei ai, para quem quiser vê-lo e visitá-lo, quando desejar. Infelizmente, não vou mais escrever por aqui. Provavelmente, nunca mais irei escrever no estilo abstrato e depressivo que adotei para esse blog. É hora de escolher que tipo de escritora eu anseio ser, e talvez queira ser do tipo mais profissional. É isso. Muito obrigada, novamente, novamente e novamente, para cada um de vocês. Para a Caroca, que foi a primeira a ler e elogiar minhas porcarias. Para o Heitor, que, incrivelmente, eu conheci por esse blog. Para os meus amigos, em um geral, que sempre me leram e me apoiaram. Para Mariana, Juliana, Camila, Júlia, e diversas outras blogueiras que, de tempos em tempos, passavam aqui para deixar um comentário. E é isso. Espero que vocês lembrem daqui com carinho. Eu sei que vou demorar a esquecer.

9 de março de 2013

Adeus

Eu me despediria de você da forma que acho mais conveniente - com um adeus. Com um aceno leve de cabeça, um aperto de mão e, quem sabe, um sorriso. Com a promessa vaga de um reencontro futuro, mas que não passaria de uma expectativa tola. Devo admitir, aqui, nessas linhas secas, que te amo demais para permitir que passe seus dias em minha companhia. Que meu egoísmo não é maior que meu bom senso, e que a última coisa que gostaria de presenciar é a sua tristeza. A marca em seu rosto de um sorriso apagado, uma linha seca (tais como essas que você acompanha) no contorno de seus lábios. Jamais. Me contentaria apenas com o teu sorriso, mesmo que não dirigido a mim.

28 de janeiro de 2013

Nunca mais


Se minhas palavras fossem pássaros, as soltaria após uma breve hesitação. Porém, se os pássaros se tratassem de corvos, os reuniria nos umbrais de meu quarto, enquanto sorrio de melancolia e profiro acusações vulgares. Apenas torceria para que minhas palavras pudessem moldar, ao menos que abstratamente, o vazio e silêncio que criei dentro de mim. Só então sentiria um lampejo. Talvez, se tratasse de uma sombra de felicidade que os acontecimentos me forneceram. Mas felicidade já está fora de cogitação. Quando jovem - jovem, ah, como eu era jovem! - abracei a insanidade em um pranto. E não da forma que se acolhe a alegria. Tudo que senti foi um vazio que julgava ter certeza do que fazia. Então me apaixonei. Pela melancolia em carne e osso - de carne e osso que não possuíam mais vida. E, logo então, o lampejo. A dor destroçada em meio peito corroendo o que lutei para salvar. A mim mesma. E, com os corvos nos umbrais me fitando com seus olhos negros (como demônios zombateiros), um terceiro lampejo. Eu sorria. Não de um sorriso de alegria, mas de uma dor profunda que soou terrivelmente injusta; de uma melancolia grave e sem sentido. Em um lampejo rápido de medo. E, com os ombros encolhidos e com corvos a me fitar sabiamente, soube o que iriam me dizer, antes que eu pudesse ter a oportunidade. Os corvos falaram, em um sussurro mudo,  que se alastrou por todo o quarto. Eles disseram nunca mais.

23 de janeiro de 2013

Depressão


Depressão é a página virada
De um livro que não acaba
Ora branca; ora negra
Porém, com a tênue certeza
Que o final será trágico

19 de janeiro de 2013

Nós




Era um garoto com um punhado de nós. Eles estavam em seus cabelos, dedos, braços, pernas e olhos. Os nós espreitavam suas palavras, enfurnavam seus pensamentos e prendia, bem atado, suas vontades. Quando era conveniente, ele procurava desmanchá-los. Mas era sempre inútil. Os nós tendiam a se emendar e crescer, uns nos outros, até serem maiores do que o tamanho de um punho fechado. Mesmo assim, eu gostava desse garoto. Contava-lhe os nós até ele adormecer, e os desatava para não o acordar. Só quando eles se emendavam e embaralhavam, era que ele acordava. Ficávamos então sem nos mexermos, os dois, à espera que os nós parassem e se acalmassem. E era assim, todas as noites, até que voltássemos ao princípio.